No intervalo de uma semana, entre o final de agosto e o começo de setembro de 1997, um mundo de mudanças se abateu sobre a realeza da Inglaterra. O que era secular se modernizou, o que era dogmático se flexibilizou e o que era particular se tornou público. Depois daquela semana, em que morreu a ex-princesa Diana e Tony Blair elegeu-se Primeiro-Ministro, a Rainha Elizabeth II nunca mais foi a mesma.
O formidável A Rainha (The Queen, 2006), de Stephen Frears, filme muito justamente indicado a seis Oscars (incluindo melhor filme, roteiro original e direção), repassa a semana dia a dia. Começa com a eleição de Blair, representante do Partido Trabalhista, reerguido ao poder - depois de 18 anos de hegemonia do Partido Conservador - com um discurso de reciclagem das relações de trabalho, incentivando o livre mercado sem deixar de lado a assistência social. É a famosa Terceira Via que fez de Blair um superstar do neoliberalismo durante a segunda metade da década.
Não foi, porém, a agenda ideológica que impulsionou a popularidade de Blair nos seus primeiros dias de governo. No mesmo dia da posse, Diana Spencer, acompanhada do namorado Dodi Al-Fayed, morre em um acidente de carro em Paris. Torpor generalizado no Palácio de Buckingham. Fica acordado que a família Spencer de Gales fará um funeral familiar. Blair telefona para a Rainha. Esta responde que não fará pronunciamentos oficiais - não cabe à instituição da realeza comentar a morte de uma pessoa que não faz mais parte da família real, argumenta. Blair decide então falar às câmeras em nome do Parlamento. É no emocionado discurso, escrito por um assessor, que surge pela primeira vez a expressão Princesa do Povo.
Não estranhe se Tony Blair, nas rápidas atitudes midiáticas tomadas para aliviar a perda dos ingleses, despontar como protagonista do filme. É a partir de suas reações que Frears delineia a personalidade da Rainha. O populismo de Blair contrasta com a reserva de Elizabeth II, que considera o luto, acima de tudo, um assunto íntimo. O apego da rainha à instituição que ela representa - "nunca hasteamos a bandeira real a meio mastro e não será agora" - é a antítese da retórica televisionada que arquiteta a equipe do Primeiro-Ministro.
É de valores que Frears fala, no fundo. E o ator Michael Sheen, que já havia interpretado Blair em outra produção de Frears, o telefilme The Deal, se sai muito bem compondo um personagem moralmente complexo. Vista publicamente desde 1997 como uma rancorosa opositora à imagem santa de Diana, Elizabeth II ganha no filme - e na figura estupenda da atriz Helen Mirren, indicada ao Oscar - um pouco de justiça histórica. Seu entendimento do que são os deveres e os limites de um soberano, sua visão de mundo no que se refere a privacidade e símbolos públicos, são bem mostrados em A Rainha.
Do lado de fora, parece mesmo que a família real só gasta o dinheiros dos contribuintes ingleses. Do lado de dentro - como o diretor de fotografia brasileiro Affonso Beato nos mostra sem sensacionalismo, com o maior dos respeitos, circulando ao redor da rainha sem ofendê-la com dramatizações de câmera - fica mais fácil entender como é complicado ser a representação física, humana, diplomática, de um país inteiro.
Fonte: Omelete - A Rainha
Acrescentando uma opinião pessoal a matéria do Omelete.com, não sei como foi pra cada um a Morte da Princisa Daiana a 12 anos atrás, mais pra mim, apesar de ter apenas 12 anos, foi muito marcante. Lembro de ter passado o dia da morte dela chorando e na epoca eu nem mesmo sabia quem ela era. Fiquei muito emocionado assistindo o filme e todo aquele sentimento de perda voltou. Não consigo explicar como ou por que, sei apenas que esse filme entra pra lista dos melhores filmes da minha vida. Não apenas por me fazer voltar no tempo, mais por nos mostrar os detalhes ocultos na morte dessa mulher que foi um simbolo mundial e que com sua morte fez o mundo inteiro chora
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